Jerum andava de cabeça baixa, mas observava tudo atentamente. Seu corpo ainda sofria, mas o mal estar estava diminuindo. Em breve, seu vigor retornaria, mas a desvantagem numérica era evidente, se conseguisse escapar, facilmente conseguiria retornar ao rio ou ao local onde acordou, mas havia muitos olhos observando ele. Então uma tontura veio novamente junto com uma visão, ele se viu fugindo de algum tipo de lobo gigante, escondendo entre pedras e dentro de árvores. Era estranho. Votou a vomitar e parou de andar enquanto a cabeça girava.

– Essa não! Esse cara está doente, não vai servir de nada – disse o mais jovem entre eles.

– Ele é inútil, um fardo, só estamos perdendo tempo com esse cara – reclamou William.

– Calma. Pode estar estranho, mas não demonstra fraqueza. Talvez tenham feito algo com ele, mas parece bem fisicamente. Vamos esperar mais uns dois dias, caso fique bem, podemos vendê-lo ainda no norte – falou o mais velho.

– Luigi, espero que esteja certo, isso não parece promissor – reclamou o mais próximo a ele.

– Não temos nada a perder. As nossas últimas ações não resultaram em nada – falou Luigi referindo-se aos últimos dois roubos que acabaram mal.

Então chegaram em uma clareira, havia dois ou três sacos surrados amontoados no canto de uma árvore e umas duas mochilas de couro penduradas em galhos. No centro, o resto de uma fogueira feita na noite anterior. E o vento frio junto com a escuridão indicava que a próxima noite estava perto de começar. O bárbaro estava alheio ao seu destino, não parecia preocupado em estar capturado. A sua visão, no entanto, o intrigava; não entendia como poderia caber dentro de uma árvore. O animal gigante era familiar, aquilo parecia uma espécie de lobo.

– Como acabamos dessa forma? Roubando de outras pessoas… – dizia Vicenzo.

– Você gostaria de seguir aquele louco do Enrico? Nunca! Fomos a Belo Jardim em busca de um recomeço – disse Benito.

– Só encontramos miséria por lá, não havia trabalho para um aprendiz, nem para limpar cavalos – reclamou William.

– Ficamos dias esperando algo acontecer, a fome veio junto com violência da guarda – falou Hector.

– Querias ser um mendigo, era isso? Ou controlar teu próprio destino? Vi em vocês potencial! Meus rapazes me abandonaram por uma nova vida no mar! Foi sorte de vocês, estavam no lugar certo. Eu precisava de novos braços e vocês eram capazes – falou Luigi em tom de censura.

– Que droga! Era um bom guarda na vila, tinha um emprego, tinha o respeito dos outros, maldito traidor! – praguejou Vicenzo.

– Aquele traidor desonrou a memória do próprio pai, maldito Enrico – disse outro cuspindo no chão.

– Não adianta chorarem miséria aqui. Vocês terão dinheiro e mulheres, uma vida de aventuras, longa ou curta. Dependerá só de vocês – falou Luigi.

Jerum riu desdenhando da palavras de Luigi. Enquanto isso os animais noturnos da floresta começavam a se manifestar. Os sons eram inconfundíveis para o bárbaro: uma coruja acima, pássaros se aconchegavam a direita, algum roedor a esquerda, o vento vinha de tempos em tempos junto com os barulhos das folhas. A conversa continuava, e o líder deles estava cada vez mais irritado com tanta lamentação. Talvez começasse a se lamentar por escolher aqueles homens, então o vento frio soprou forte e constante fazendo a chama diminuir e jogando o bárbaro dentro da escuridão.

– William, Vicenzo, tragam aquele homem para cá, não vamos perdê-lo de vista – ordenou Luigi.

Eles se levantaram praguejando algo que ninguém conseguiu escutar,. Foram até onde estava o prisioneiro. Quando o ergueram pelos braços, o grupo foi iluminado, era uma luz espectral verde que envolvia a todos, figuras esqueléticas estavam ao seu redor,. Largaram Jerum, que estava espantando com aquilo. Creio que todos estavam. William pegou em sua espada, mas não teve a chance de sacar, pois a figura bizarra a sua frente o agarrou pelas bochechas e transpassou seu peito com uma espada escura. A arma era esquisita. Além de matar o pobre coitado, ela queimava fazendo o gritar de dor. O bárbaro sentiu um cheiro esquisito e viu uma fumaça saindo do peito de William. Os outros tentavam combater as criaturas, mas suas armas eram inúteis. Um a um eram derrubados pelos golpes. A criatura agarrara Vicenzo. O monstro virou para o bárbaro e o avisou:

– Fique sentando, não seja tolo, filho do leste – grunhiu a criatura que emitia o som de alguma forma.

Assim, aquilo transpassou sua arma e Vicenzo teve o mesmo destino de William.