Abriu seus olhos e viu o teto de madeira familiar. Estava frio naquele dia, os machucados incomodavam bastante, pernas, braço esquerdo e a cabeça latejavam. Não sabia por quanto tempo ficou dormindo ou como foi parar naquela casa.

– Talvez por uns dois dias – pensou.

A cama era muito confortável como sempre foi. Sentia falta desde o dia que saiu de casa para se juntar a Daniel. Alerin estava contente por ter escapado. Seu corpo machucado o lembrava a cada respiração que estava vivo. Havia roupas limpas no canto do quarto esperando pelo dono. Todos os moveis estavam no mesmo lugar, nunca gostava de mudar, os criados sempre respeitaram isso. No outro canto próximo a janela, seu martelo de combate estava escorado, havia alguma luz no quarto, mas a arma parecia nova, talvez alguém tenha feito algum trabalho nele. Havia algo pendurado, um cordão com…

– Bom dia, campeão! É ótimo vê-lo acordado! Você dormiu por cinco noites – falava Amerin, sua irmã mais nova.

– Leruen veio com os meninos ontem, esperava te ver. Estavam ansiosos para rever o tio. Sabe que ela não gosta de sair da montanha, mas convenceu Alin para acompanha-la só para te ver – a jovem não parava de falar – Os meninos ficaram tão tristes por não ver o tio, mas sabem que um campeão precisa de um belo descanso – continuava falando, tinha um folego e tanto.

– Campeão? – a pergunta não interrompeu a irmã.

– Mamãe estava bem preocupada, porque você já começava a emagrecer e nada de acordar. No segundo dia, pedi para o sacerdote da pedra brilhante rezar para que você acordasse. Ela já estava irritando o Daniel, pois pedia diariamente para que ele fizesse algo – quando a irmã parou um pouco para recuperar o folego.

– Daniel? Esteve aqui? – indagou o jovem que rapidamente se arrependeu pela pergunta.

– Sim! Vem aqui todos os dias ao final da manhã e da tarde. Sempre vem nas horas das refeições para te ver e encher as barriga com a boa comida da nossa mãe – a jovem iria falar mais, porém outra coisa chamou a atenção de Alerin.

– Aquilo ali! Aquele cordão traga aqui, por favor – apontou para o objeto feito de prata pendurado no martelo.

– Ah! Nosso pai mandou fazer para você! Está tão orgulhoso de ti! Desde o bisavô Ugin nossa família não tinha um campeão – a garota entregou nas mãos dele o cordão com uma presa pendurada.

– Então derrotei ele? A besta? – Alerin segurava o cordão sem acreditar, a memoria não ajudava. Segurava a presa, era quase do tamanho de sua mão.

– Você não lembra de nada? Ah! As crianças vão ficar tão decepcionadas, estão loucas para saber como o tio tinha matado o enorme homem-lobo! – a irmã levantou os braços tentando se igualar ao tamanho da fera. Ela não tinha ideia do tamanho do monstro que o irmão enfrentara.

– Leruen disse que brincam todo dia de anão guerreiro e homem-lobo. Vou avisar nossa mãe e nosso pai, temos que enviar imediatamente um mensageiro para que venha com os meninos – ela se aproximou e deu um longo abraço no irmão – Que bom! Que bom que você está vivo! Por muito tempo temi que jamais acordaria! – deu um carinhoso beijo no rosto do irmão com os olhos lacrimejando.

– Ainda bem minha irmã! Ainda darei muitos dias de trabalho a vocês! Não quebro tão fácil, sabia? – fez um gesto batendo no peito.

– Eu sei, campeão! Estamos muito orgulhosos! Vou falar com eles, descanse um pouco mais – ela saiu do quarto.

– Veja só! Estava incomodado por que não parava de falar. Tenho sorte – pensou novamente na luta, mas mal lembrava do lobo, lembrava de…

Quando seus pais entraram no quarto foi uma explosão de alegria. Ela feliz por ver o filho vivo mesmo mais magro e cheio de hematomas. Ele contente por ter o campeão da família. Os irmãos do pai ficariam roxos de inveja e a influencia da sua família duplicaria na montanha. Logo vários senhores iram conversar com seu pai tentando casar uma de suas filhas com campeão, mas seu pai iria esperar, seu filho ainda era verde, poderia se tornar ainda maior. Seu feito chegará em todas as montanhas anãs, talvez os senhores da grande montanha queiram conversar com ele.

– Garoto, você é meu orgulho! Um matador! Desde seu bisavô ninguém conseguia tamanho exito – falava cheio de orgulho do próprio filho.

– Nada mal para um ex-escriba, não é? – lembrou ao pai do destino traçado por ele.

– Esqueça isso! Se soubesse de seu talento, o teria colocado na guarda e seu talento jamais seria visto! Foi o destino que colocou aquele ideia boba na minha cabeça! – o pai soube mudar a conversa a seu favor.

– Pois vamos deixar ele descansar mais um pouco. Alerin está cheio de machucados ainda. Já preparo algo para você comer. É bom se levantar um pouco e sair desse quarto. Talvez seu amigo mago apareça em breve quando sentir o cheiro da comida – ela saiu sorrindo junto com o senhor anão.

Alerin comeu o desjejum com seus país e sua irmã. Foi uma conversa tranquila que não tinha há muito tempo em família. Depois sua mãe e irmã o deixaram na entrada da casa, e ele observava a cidade tão distante e pequena sob sombra fresca. O vento frio agradável o deixava contente, os anões se adaptavam bem a quaisquer condições a que fossem submetidos. A bela casa de seu pai ficava há uns vinte minutos de caminhada até a cidade, era cercada por um cerrado bem verde, longe o suficiente para se livrar da movimentação da cidade, perto o suficiente para ter algumas criações e manter a grande maioria dos animais selvagens longe. Os poucos criados que seu pai mantinha estavam cuidando de ovelhas, galinhas, vacas e cavalos. Era normal escutar alguns desses animais quebrarem a tranquilidade.

As pernas e o rosto ainda latejam. O anão gostaria muito de lembrar da luta, mas sua mente ainda estava confusa. Lembrava das moças, lembrava do lobo gigante, de encarar o bicho, da certeza da morte, mas o restante era nebuloso.  Recordava de alguns instantes da luta, dos golpes fatais que quase o acertaram, mas era estranho, parecia que assistia a luta… Mas não importava mais, pois de longe conseguia ver que seu sócio acabara de passar pela portinhola, talvez tivesse as respostas que tanto ansiava…