Antes da crítica, quero fazer um pequeno disclaimer. Eu não li o livro no qual o filme foi baseado, até estou com ele aqui, mas não tive tempo (onde lê-se “não tive tempo”, leia-se “me indicaram um mangá novo”). Por isso não farei comparações entre as duas obras, somente uma: o livro é melhor que o filme. Afinal, os livros são sempre melhores que os filmes, com exceção, é claro, dos casos em que não são – mas a porcentagem de vezes que acontece do filme ser melhor é tão baixa que é mais conveniente simplesmente arrendondá-la para zero.

O filme é dirigido por Tim Burton e adapta o livro O Orfanato da Sra. Peregrine para Crianças Peculiares, de Ransom Riggs. Na trama, Jake (Asa Butterfield) vai visitar seu avô, como faz regularmente, e o encontra quase morto em circunstâncias um pouco estranhas – nada de mais, ele apenas teve seus olhos arrancados. Ele decide então ir em busca do orfanato para crianças especiais do qual seu avô sempre lhe falava. Lá ele descobre que as crianças são realmente especiais, mas não da maneira da qual estamos acostumados.

Temos aqui um elenco de peso. Além do Asa Butterfield já citado, temos Samuel L. Jackson como Dr. Barron, temos Eva Green como Srta. Peregrine, Ella Purnell como Emma, e, a joia do filme para quem é nerd, Chris O’Dowd, que fazia o personagem Roy na série The IT Crowd, como o pai de Jake. Não há nenhuma atuação fenomenal no filme, apesar de todos se saírem bem.

A estética do filme está realmente muito boa, tem vários elementos “peculiares” que são característicos dos filmes do Burton: personagens com aparências que fogem muito do usual – acho que dizer que foge do usual é usar um eufemismo, bizarro talvez seja mais apropriado; cenas um pouco macabras; o protagonista que vive entre dois mundos quase que opostos; e até mesmo o Stop Motion é presente no longa. Mas é tudo muito bem dosado, o que é excelente pois não ficou com aquele ar tão sombrio como em suas obras pregressas. Pelo contrário, o filme possui um tom bem descontraído, equilibrando bem o humor com um pouco seriedade, exceto alguns momentos em que o vilão vivido pelo Samuel L. Jackson exagera na canastrice, o que não chega a comprometer o filme.

Ele acerta na forma que nos apresenta os personagens e as suas peculiaridades. Você consegue entender o suficiente sobre cada uma sem que o filme seja explanativo demais, em alguns casos, te explica apenas mostrando a peculiaridade em ação, sem usar uma única palavra. E os poderes são realmente bem variados, indo desde fendas temporais a “marionetes”.

Ao mesmo tempo, você percebe que a maioria das peculiaridades leva a alguma inconveniência, como a Emma que precisa usar botas de chumbo e se amarrar à cadeira sempre que quer se sentar; além de que nenhum deles é absurdamente poderoso, nem mesmo Jake, o protagonista, possui uma peculiaridade realmente forte. Esses dois pontos facilitam a identificação do espectador com o personagem.

Há dois pontos que me incomodaram no filme. O primeiro é quebra de ritmo. O filme tem um ritmo bem tranquilo durante o primeiro e o segundo ato, aos poucos ele te apresenta os personagens e o novo universo. O problema é que nesse momento eles se lembram que a história precisa de um antagonista e de algum desafio para o protagonista. A partir daí o filme acelera igual a um filho que vê sua mãe segurar um chinelo enquanto faz a cara de um animal selvagem, o que interfere na apresentação do Dr. Barrom deixando-a didática demais.

O segundo ponto que me incomodou foi o romance entre o Jake e a Emma. É muito raso, você não consegue ver por quais motivos eles ficam juntos. Dá a impressão que ela fica com ele por se parecer com o avô dele, do qual ela também teve um romance – lembra que eu mencionei fendas temporais mais cedo? E ele ficou com ela porque foi a primeira garota a lhe dar alguma atenção. Só não ficou pior pois os dois atores possuem uma boa química entre si.

Nuca se esqueça de levar sua namorada para passear
Nunca se esqueça de levar sua namorada para passear

Finalizando, a obra não chega a ser uma dos melhores trabalhos de Tim Burton. Mesmo assim, é bom vê-lo acertar depois de ter dirigido alguns filmes de qualidade duvidosa. Com certeza vale a pena assisti-lo no cinema.

Nota: 8 de 10 Slendermans.

oito Slendermans enfileirados