A Teoria da Evolução diz que genes de organismos que não fazem “sexo” iriam evoluir de forma independente, se tornando cada vez mais diferentes com o passar do tempo em um fenômeno chamado “efeito Meselson”. Embora esse fenômeno tenha sido previsto há quase vinte anos, a evidência para prová-lo era complicada de se achar.

Os pesquisadores da Universidade de Glasgow conseguiram demonstrar o efeito Meselson pela primeira vez em nível genético, estudando um parasita chamado Trypanosoma brucei gambiense (T. b. gambiense). Os resultados foram publicados no jornal eLife. A pesquisa foi feita no Centro de Parasitologia do Instituto de Biodiversidade Veterinária e Medicina Comparativa da universidade.

T. b. gambiense é o causador da doença do sono africana em humanos, levando a sintomas severos como febre, dores de cabeça, fatiga extrema, e dor nos músculos e juntas, que só aparecem depois de semanas ou meses após a infecção. Se a infecção invadir o sistema nervoso central podem surgir sintomas e problemas neurológicos, como confusão progressiva e mudanças de personalidade.

Trypanosoma brucei gambiense o causador da febre do sono Africana.

Trypanosoma brucei gambiense, o causador da febre do sono Africana.

Para demonstrar o efeito Meselson no T. b. gambiense, a equipe de pesquisa, liderada pela Dr. Annette Macleod, sequenciou o genoma de 75 amostras isoladas do parasita. Incluindo múltiplas amostras de áreas de incidência da doença no interior da Guiné, Costa do Marfim e Camarões, coletadas ao longo de cinquenta anos, de 1952 até 2004.

A semelhança dos genomas estudados dessas diferentes localidades, juntamente com a falta de recombinação na evolução do parasita, sugere que está subespécie surgiu de um único individuo há cerca de 10.000 anos.

“Foi mais ou menos nesse momento que a pecuária estava começando a ser desenvolvida no oeste da África, permitindo ao parasita, que era originalmente animal, ‘pular’ de uma espécie para outra através da mosca Tsé-tsé, ” diz o autor principal do estudo Dr. Willie Weir.

“Desde então, mutações criaram uma diferença grande o suficiente para não haver mais uma recombinação de genes no T. b. gambiense, isso significa que dois cromossomos em cada espécime evoluíram independente um do outro, demonstrando assim o efeito Meselson”. O Dr. Weir acrescenta que a incapacidade dos parasitas de recombinar os genes com outros indivíduos inibe a troca de informação genética entre linhagens. Esta condição dificulta a habilidade do parasita desenvolver resistência a múltiplas drogas.

Se não tem como pedir ajuda provizinho, faça vc mesmo...

Se não há recombinação de DNA, não tem como “consertar” o mesmo? Errado, basta copiar e colar uma parte boa sobre a parte danificada.

Os pesquisadores também descobriram evidências de que o parasita usa conversão genética para compensar a incapacidade de recombinar os genes. Este mecanismo repara um gene inferior ou danificado, “copiando e colando” uma cópia do par do gene em outro cromossomo. Mas isso não é o suficiente para compensar o efeito Meselson.

O próximo desafio será investigar a efetividade desse mecanismo ao longo do tempo, já que a teoria da evolução diz que organismos assexuados serão eventualmente extintos. Se o T. b. gambiense tiver este destino, a principal causa da Doença do Sono Africana vai deixar de existir. Porém, é impossível prever quando isso vai acontecer.

Fontes: Science DailyeLife.