O título pode parecer pessimista, triste, derrotista. E é. Findada as negociações na COP-19, todos os países do mundo concordaram que devemos mirar em um aumento máximo de temperatura global média de 1,5°C, algo muito melhor e mais ambicioso do que vinha sendo discutido até aqui. Ou seja, algo excelente, não?

Fonte: ONU

Yeeeeeeei

Sem dúvida. O problema é que está longe da realidade se formos ver o que já foi falado sobre a implementação desse objetivo e também longe de projeções mais recentes baseado no estado atual das coisas. O primeiro ponto foi explorado à exaustão neste excelente podcast e não será explorado aqui (mas, resumindo: querem chegar a no máximo 1,5°C, mas os compromissos voluntários, se cumpridos, levariam a um aumento médio de 3°C).

Sobre as projeções, este recente estudo publicado pela Nature de institutos climatológicos da Suíça e da Austrália demonstram que mesmo em um aumento de 1,5°C ou 2°C na média levaria a incrementos que chegariam a algo acima dos 8°C em algumas regiões do globo. Um dos exemplos que citam é no Ártico, que poderia chegar a um aumento de 4,4°C caso o aumento médio global fosse aquele acordado em Paris. Vindo mais próximo das terras tupiniquins, os pesquisadores mostram que as regiões Centro-Oeste e o sul da Amazônia podem a alcançar um aumento de 2°C nos próximos 15 anos; isso porque o estudo é global e não se fixa no Brasil; acredite, nosso país terá consequências por todo o território.

Mas é importante frisar: nos próximos 15 anos. Esse ponto é importante para que se quebre um mito, muito comum ao falarmos sobre climatologia, mudança do clima e afins. Antes as projeções, consequências e problemas eram sempre em um horizonte temporal de longo prazo, o que poderia levar a uma dificuldade de internalizar a causalidade entre o que fazemos com os resultados práticos dessas ações. Ou, em palavras mais poéticas, “em 2100 estarei morto, então que se dane”.

O mundo não tende a ser o universo de Mad Max; mas imagens impactantes sempre chamam a atenção.

Entretanto, cada vez mais causa e consequência vão se aproximando de um horizonte temporal do nosso cotidiano; o longo prazo vem se tornando médio, curto. E o que eram chuvas excepcionais, secas inesperadas, tempestades não antes previstas vão, mais e mais, entrando em uma rotina de baixa previsibilidade. E se tem algo que a humanidade detesta é não ter como se prevenir do futuro.

É claro que temos que enfatizar sempre que são modelos e que prever mudanças do clima sempre está acompanhado com um alto grau de imprecisão. Contudo, o progresso do conhecimento científico na área não está nesse paper, em algum outro livro específico ou em apenas um político influente que faz um documentário recheado de propaganda (não vim aqui para apontar dedos, Al). Mas está nessa massa de cientistas, de todas as partes do mundo, que, de forma independente, repetem à exaustão: “A contínua emissão de gases de efeito estufa irá causar maior aumento e mudanças de longo prazo em todos os componentes do sistema climático, aumento a chance de impactos severos, penetrantes e irreversíveis para pessoas e ecossistemas”.

Fonte: IPCC

A ciência é apolítica? Não. E isso é um problema?

O mundo ficará mais quente. Não é uma “batalha perdida”, pois, para sê-lo, ela deveria ter tido dois lados combatendo, algo que, até agora, nunca de fato aconteceu. É uma realidade, e uma realidade que você, individualmente, e países, empresas, cidades, grupos, enfim, todos os coletivos sociais deverão se acostumar, se adaptar para que cheguemos a um “novo normal”. Seja ele como for.