Quando se é estudante de graduação na área da saúde, sempre tem aquela pessoinha que vem tentar uma consulta grátis, o que é compreensível (quem nunca? Haha). Se o curso em questão for Psicologia… Vão perguntar sobre absolutamente tudo! Desde o que fazer para superar um pé na bunda, até sobre aquele psicopata famoso da série da TV. (alô, Dexter!). Responder essas perguntas é um ótimo modo de estudar, além de render situações, no mínimo, interessantes.

Pois bem, estava eu conversando sobre as minhas desventuras em série para conseguir confeccionar esse texto, (minha gente, Lei de Murphy foi feia por aqui) quando um colega me perguntou porquê as pessoas “ficavam mais salientes no whatsapp depois das 00hs”. Não me aguentei e caí na risada, achando que era pura brincadeira, mas a pessoa realmente tinha curiosidade no assunto.

Para responder, vamos pensar no nosso cérebro como uma empresa composta por trabalhadores, onde cada setor possui uma atribuição. No entanto, esses setores podem combinar-se para desempenhar uma função mais complexa, ou ainda se reorganizar caso um setor deixe de funcionar por algum motivo.  

O córtex cerebral é dividido em 5 lobos: frontal, parietal, occipital, temporal e límbico. Cada um com suas respectivas atribuições. Cabe ao lobo frontal organizar, planejar, estabelecer relações temporais e ordenamento lógico. Basicamente, ele toma decisões entre executar ou frear ações consultando outras áreas cerebrais.

Os neurônios inibitórios, localizados na região frontal, vão controlar a emissão de respostas inadequadas, baseados no histórico de aprendizados daquela pessoa. No entanto, se estamos cansados ou com sono, esse funcionamento não será tão eficiente assim…

Com o lobo frontal funcionando em “modo de economia de energia” porque estamos cansados, tanto ficamos mais desinibidos, quanto não calculamos adequadamente as consequências daquilo que estamos dizendo. Então é só por isso que algumas pessoas ficam mais animadinhas no whatsapp na madrugada? Não exatamente.

Além disso tudo, temos fatores evolutivos que contribuem. Falar com pessoas que atentem ao que dizemos é muito reforçador! E se alguma dessas pessoas sinalizar a possibilidade de envolvimento sexual ou afetivo, o negócio se torna mais atrativo ainda, porque adicionamos um reforçador primário na conversa (o sexo). Vale lembrar que a espécie humana evoluiu de modo a manter privado o seu comportamento sexual, geralmente praticando-o a noite, onde a privacidade é facilitada.

Reforçador é tudo aquilo que aumenta a possibilidade da repetição de um comportamento. Os de classificação primária são aqueles que foram estabelecidos por ligarem-se diretamente à sobrevivência e perpetuação da espécie, diferentemente dos secundários, que são aprendidos.

Pensem aí no que acontece quando juntamos uma pessoa cansada ou com sono, com um celular com wifi, conversando com aquele crush que já está de olho há tempos? Isso mesmo! A tendência vai ser a de dizer o que tem vontade, sem calcular muito bem o que pode resultar daquilo, correndo o risco de grande torta de climão no dia seguinte. Então, se me permitem um conselho: durmam bem (hahaha)!

 

PS: Meus agradecimentos ao Pedro, que me fez a pergunta tema desse texto e ao professor Gérson Alves pela revisão técnica!

 

REFERÊNCIAS:

MACHADO, A; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2013.

PINEL, J. P. J. Biopsicologia. Tradução de Ronaldo Cataldo Costa. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

 

Skinner, B. F. (1979/2003). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.

 


 

Daniele Almeida

Estudante de Psicologia na UFAL – U. E. Palmeira dos Índios e entusiasta dos memes da interwebs.