Você volta pra sua casa e tenta dormir, mas algo te incomoda. Você checa a torneira, a geladeira, o computador, o céu a procura de avião (ou de um OVNI), o vizinho… e o som não vem de local algum. Não existe uma fonte sonora externa, pois o som vem de você. Infelizmente esta será a realidade de muitos que hoje abusam da audição como se não houvesse amanhã.

Esta percepção de sons ou ruídos na ausência de uma fonte sonora exterior é chamada zumbido.

A prevalência deste sintoma, segundo o National Institute of Health (algo como o ministério da saúde dos EUA), subiu de 15% (em 1995) para 25,3% (em 2010), se tornando um problema mais frequente que a asma, cegueira, surdez ou Alzheimer.

Quando um adulto tem zumbido, cerca de 90% das vezes já existem alterações nos exames que testam a audição. Entretanto, em jovens a situação é diferente: eles percebem antes de notarem qualquer perda auditiva. Sendo assim, a presença do zumbido sugere fortemente que este seja um sinal de alerta precoce para futuros problemas e não extraterrestres fazendo upload de informações, muito menos culpa da glândula pineal.

Figura a esquerda mostra personagens do filme Sinais com chapéu de alumínio para prevenção de invasão de suas mentes pelos alienígenas. Figura a direita mostra mãe em evento esportivo de alta intensidade sonora protegendo seu filho com protetor auricular. Sabendo não ser culpa dos alienígenas, a melhor prevenção do zumbido é proteção contra sons altos.

Prevenção de zumbido é com protetor de ouvido, não com chapéu de papel alumínio. (Montagem de 1  e 2)

O aumento do sintoma nos mais novos motivou uma pesquisa, em 2007, entre as Universidades de São Paulo e de Iowa, que estudou 506 crianças de 5 a 12 anos. Os resultados revelaram que 37,7% (!!!) tinham zumbido e 19% se incomodavam com isso.

Apesar de existirem inúmeras causas de zumbido e surdez, sabe-se que os aparelhos individuais com fone de ouvido (smarthphones e mp3 players) são as maiores causas, em jovens, deste sintoma que incomoda muito. Alguns aparelhos têm potência de até 130 decibéis, que é quase a mesma potência de uma turbina de avião. Estes dispositivos revolucionaram a forma de ouvir música e, por serem práticos e portáteis, se tornaram acessórios quase indispensáveis no dia a dia, principalmente em grandes cidades brasileiras. Um estudo americano da Language Hearing Association, mostrou que 61% dos adolescentes possuíam tais aparelhos, enquanto 51% dos estudantes de escolas secundárias americanas apresentavam sintomas de perda auditiva.

Criança com face de incômodo mostra que a associação de música alta em fone de ouvido leva à zumbido e surdez precoce

Música alta + fone de ouvido = zumbido e surdez precoce (Fonte)

O hábito de escutar música alta mobiliza cada vez mais pesquisadores para estudar o impacto negativo sobre a audição. Em pesquisa no Pubmed – a maior plataforma de revistas médicas  –  a palavra “tinnitus” (zumbido, em inglês) fornecia 150 referências no ano de 1994, enquanto que até o fechamento deste post, em 2016, apresenta 10686 artigos sobre o tema.

Vários fatores que justificam o aumento sensível de prevalência do zumbido – maior exposição a ruído, erros alimentares, estresses diários, entre outros – continuarão em nossas vidas. Mas, a consequência pela falta de prevenção é paradoxal: jovens com potencial para viver até os cem anos com perda auditiva mais precoce do que outras gerações.

Por isso, caro leitor, previna-se: escute nossos Podcasts no volume médio e proteja-se de sons altos.

O zagueiro Drew Brees protege seu filho de sons altos no Super Bowl.

O zagueiro Drew Brees e seu filho no Super Bowl. (Fonte)

Fontes: Redalyc Brazilian Journal of Otorhinolaryngology