Domingo, 26/02, foi dia de eclipse, mas aqui no Rio só choveu. Por sorte, meu outro programa alternativo ao Carnaval ainda tinha um item: a entrega do Oscar. Como todo nerd adoro cinema. Como a turma do SciCast já dissecou o filme de scifiA Chegada” (The Arrival, Denis Villeneuve, 2016) me resta comentar o outro filme. O meu filme preferido com inspiração científica foi “Estrelas Além do Tempo” (Hidden Figures, Theodore Melfi, 2016).

O Filme

O filme ganhou vários prêmios: Satellite Awards (melhor elenco), SAG Awards (melhor elenco), Hollywood Film Awards entre outros. Estrelas Além do Tempo foi indicado para oito oscars incluindo o de melhor filme, mas, infelizmente, não levou nenhum.

Cartaz do filme.

Eu estava torcendo muito pelo filme antes mesmo do lançamento. Assistir a obra foi uma experiência muito gratificante.  As imagens iam deslizando na tela e dialogando com minhas memórias, memórias que um aluno de astronomia guarda. Foi fácil reconhecer a linguagem matemática no filme: método de Euler, geometria analítica, parábolas e elipses; referências que todo aluno de exatas reconhece. Quando vi o livro de Fortran então viajei no tempo. Lembrei de quando eu estudei Computação 1, numa época onde ter um computador pessoal e portátil era coisa de ficção científica.

A história

O título em Portugal foi “Elementos Secretos“, tem muito mais a ver com o centro da trama que trata de figuras humanas escondidas da história. Pessoas que deram uma contribuição muito importante, mas que foram “esquecidas”: as mulheres negras que calculavam para a NASA. A obra conta essa história ao destacar três personagens notáveis: Katherine Johnson, Mary Jackson e Dorothy Vaughan. O filme foi baseado no livro “Hidden Figures: The Story of the African-American Women Who Helped Win the Space Race” de  Margot Lee Shetterly.

Capa do Livro

Além de expor dois tipos de discriminação (de cor e de gênero) o filme fala de um momento crítico da corrida espacial entre EUA e URSS. O programa Mercury fazia um monte de coisas pela primeira vez.  Por vários momentos do filme chegou-se a cogitar que seria preciso criar uma nova matemática. O desafio era lidar com cálculo de órbitas precisas, determinação de velocidades, posições e ângulos críticos. Tudo isso era novidade no programa espacial. Antes os foguetes já tinham colocado satélites em órbita. O desafio agora era levar uma “bagagem” preciosa ao espaço: seres humanos. E não bastava levar, tinha que trazer de volta: reentrar na atmosfera. Este era um dos momentos mais cruciais de toda missão. Entrar com o ângulo e a velocidade erradas significaria incinerar a cápsula ou deixar o veículo à deriva no espaço.

Outro filme que conta a história de programa Mercury é o famoso “Os Eleitos – Onde o Futuro Começa” (The Right Stuff, 1983). Este filme conta do ponto de vista dos astronautas. Nunca senti tão forte o significado do termo WASP men (sigla para “homem branco, anglo-saxão e protestante”) comparando mentalmente os dois filmes.

As Estrelas

Calcular a trajetória das cápsulas Mercury era a tarefa desafiante de Katherine.

Modelar a cápsula Mercury para enfrentar a resistência do ar no lançamento e no pouso era o desafio para engenheiros como Mary.

Programar os possantes computadores eletrônicos para fazer todos os cálculos foi o desafio de Dorothy.

hidden figures

Acima as “estrelas’ e abaixo as verdadeiras “figuras escondidas”: mulheres além do seu tempo.

Nada melhor do que trazer a lembrança o valor destas mulheres valorosas no dia da Mulher. Quer conhecer melhor estas mulheres visite o post Mulheres que Calculavam o Céu.