Em alguns lugares lemos ou ouvimos que o universo é regido por certas leis científicas (como as leis da Física, por exemplo). Entretanto, muitas vezes acabamos ouvindo isso e não dedicamos a devida atenção ao que de fato é uma lei científica. Pois bem, o que são, então, estas leis científicas e quais os requisitos para que algo receba a honra de ser chamado de lei? (lei dentro do universo científico).

Para compreender o assunto, você, leitor, tem que saber que na Ciência há uma hierarquia. Não é qualquer ideia/explicação que pode ser chamada de lei ou de teoria, pelo menos não sem antes passar por um processo absurdamente importante, talvez o coração da Ciência, que é o chamado método científico.

E como esse método científico funciona? Bom, o processo começa quando você quer explicar algo, um fenômeno ou um evento observado, quando se quer buscar uma resposta. Para isso, é necessário tornar o fenômeno reprodutível, para que possa ser reproduzido por você mesmo ou por um terceiro, de forma controlada. Depois, cria-se uma hipótese, que nada mais é que uma suposição, algo que possa explicar o evento observado, em termos mais simples, um chute. No entanto, há conceitos que regem a escolha dessa hipótese, uma vez que ela é inserida no universo da Filosofia da Ciência, que tem como um de seus objetos de estudo a natureza do conhecimento, ela busca responder a razão de algo se tornar conhecimento dentre diversos outros assuntos. Há um conceito importante que deve ser levado em consideração para a escolha da hipótese, a falseabilidade, sua hipótese deve ser falseável. Mas o que significa isso? Em resumo, sua hipótese deve poder ser mostrada falsa (ou verdadeira), isto é, deve ser possível testá-la, experimentá-la (não, não é de comer, ta?, experimentá-la no sentido de investigá-la através de experiências).

Por exemplo, vamos analisar as seguintes hipóteses:

1) O morcego e o pinguim são mamíferos.

2) Uma banana pode ser amarela ou pode não ser.

A primeira hipótese admite como resposta VERDADEIRO ou FALSO, que depende da análise desses dois animais. Ela mostra-se sendo falsa pois, através da observação/análise, se conclui que o pinguim não é um mamífero, mas sim uma ave. Já a segunda hipótese, não é testável (ou seja, não é falseável), já que é sempre verdadeira, independentemente da cor da banana obtida experimentalmente.

Então, quando se realizam os testes para buscar evidências e elas apontam que a hipótese em questão está no caminho certo, dizemos que a hipótese foi corroborada, e caso contrário, quando a hipótese não resistir ao(s) teste(s), dizemos que ela foi refutada.

Durante esse processo, o cientista não deve só procurar situações em que a hipótese seja corroborada, a ideia principal é buscar situações em que ela seja refutada. Ele deve testá-la ao máximo, sempre procurando de alguma maneira refutá-la. Se, após vários testes, ela ainda assim se mostrar verdadeira, ou seja, for de fato corroborada, isso significará que ela passou pelos primeiros testes, mas ainda não chegou lá. Lá onde? No grupo das leis/teorias científicas.

Uma boa hipótese deve responder a uma pergunta, explicar um evento observado, mas também deve ir além disso. Ela deve fazer previsões, e, assim como as hipóteses, ela deve ser testável! A hipótese deve ser colocada à prova de uma nova forma. Além de explicar um evento, a hipótese deve conseguir prever o que vai acontecer em determinadas situações, mas também é necessário verificar se as tais previsões são apoiadas pelos fatos e, novamente, dependendo dos resultados, elas poderão ser corroboradas ou refutadas. Se este último caso for provado, tal hipótese deixa de valer, é descartada.

Pois bem, no momento em que uma hipótese passa por esses obstáculos, explica algo bem, e faz previsões que estejam em concordância com as evidências experimentais, a sua hipótese evolui para (acho que isso era do Pokémon, né), ou melhor, é promovida para a categoria de uma teoria científica.

Na verdade, ela poderá, em determinadas situações, ganhar o status de teoria científica ou de lei, o que vai depender das diferenças entre tais conceitos. Em geral, uma teoria científica é um conjunto de regras bem estabelecidas (corroborada pelas evidências) sobre fenômenos adjacentes (por exemplo a mecânica clássica que é um grupo de regras que descreve o movimento de corpos a baixas velocidades e também a baixos campos gravitacionais), já uma lei é uma afirmação que explica um ponto específico em todas as situações (como as leis da termodinâmica, por exemplo). De forma mais clara, a teoria seria mais abrangente, podendo ou não ser composta por leis, uma vez que a lei é mais específica.

A Ciência é algo que se renova a cada dia. Sempre surgem novos testes para as teorias e, mesmo depois de passados anos, décadas, até mesmo séculos, uma teoria pode ser refutada. Por exemplo, a mecânica clássica de Sir Isaac Newton, depois de um certo tempo, com novos testes/experimentos, foram descobertos limites de validade para era, que ocorreu com o surgimento da relatividade restrita, mostrando que a mecânica clássica era válida para explicar o movimento somente de corpos no limite de baixas velocidades (baixas em comparação com a velocidade da luz, a velocidade limite do universo). Podemos perceber que, depois de passados mais de dois séculos(!), foi verificado que algo que era visto como verdade absoluta, não era verdade em TODAS as situações. Por isso, não dizemos que uma teoria foi provada e ponto final. Ela pode ter passado pelos testes conhecidos de hoje, que têm a ver com a tecnologia atual. No entanto, com o avanço da tecnologia (que acontece muito devido ao próprio avanço da Ciência), surgem novos experimentos a fim de pôr à prova nossas explicações de como o mundo funciona e, mesmo depois de ser corroborada diversas vezes, uma teoria pode falhar!

Dessa forma, o árbitro do jogo é o método científico, independente de quem seja a hipótese, o que importa é se ela é boa ou ruim. Ponto para a Ciência!

Portanto, o Método Científico nada mais é do que um conjunto de regras usado para a produção de conhecimento científico, além de avanços no conhecimento já existente. No dia-a-dia é muito comum você ouvir por aí que alguém tem uma teoria para explicar qualquer coisa que seja. Cientificamente, o emprego da palavra ‘teoria’ na frase anterior está equivocado, pois, como vimos anteriormente, não é qualquer coisa que pode ser chamada de teoria, não sem antes passar pelo crivo do método científico.

Recomendo a você, leitor, assistir ao lendário programa do Beakman, em que tal tema é abordado e muito bem explorado.

Por hoje é isso, pessoal, nos vemos em uma próxima oportunidade!


Fernando Dessotti, professor doutor de Física, além de apreciador de livros, podcasts e churrasco.