As vacinas são uma das invenções científicas mais importantes. Elas evitam milhões de casos de doença todos os anos e combatem os surtos mortais da história. No entanto, essas ferramentas estão ameaçadas pela crescente desconfiança pública na imunização e pelo aumento das chamadas “fake news”.

A atual campanha de vacinação contra a febre amarela, promovida pelo surto da doença que iniciou no ano passado, tem sido alvo de diversas fake news e correntes propagadas, principalmente pelo WhatsApp. As teorias de conspiração que colocam em dúvida a necessidade da campanha são preocupantes por se espalharem de forma rápida e pela gravidade do surto, que alcançou o registro de 213 casos de febre amarela, acompanhado de 89 óbitos entre julho de 2017 a 30 de janeiro deste ano.

Truco ­­­– projeto de verificação de fatos da Agência Pública – checou trechos de mensagens que circularam no aplicativo de mensagens.  As correntes analisadas abordam diversos tópicos relacionados à febre amarela que vão desde os efeitos colaterais da vacina, que foram aumentados, até os supostos lucros de empresas farmacêuticas estrangeiras com a campanha. A análise das seis frases selecionadas mostrou que foram usados dados falsos ou exagerados nas afirmações.

O movimento anti-vacina impulsionado pelas fake News, que traz diversos casos preocupantes em relação à saúde das pessoas, acontece também fora do Brasil com outras doenças. Os exemplos variam das campanhas que provocaram o medo e recusa da vacina contra a rubéola na Índia – algumas associadas a anormalidades do autismo desprezadas em torno da vacina MMR há quase 20 anos no Reino Unido – a rumores falsos similares propagados por mídia social que provocam recusas de vacinas, surtos de sarampo e mortes na difteria em Malásia.

Como a diminuição dos níveis de imunização, entre 2016-2017, a Europa registrou 35 óbitos por causa do sarampo, uma doença que foi quase destruída. Os rumores de Ebola propuseram a propagação da doença entre aqueles que temiam os motivos das medidas de quarentena na Guiné, na Libéria e na Serra Leoa.

Neste cenário da ‘pós-verdade’, as inúmeras iniciativas de fact checking existentes podem auxiliar a propor um debate em relação as informações propagadas nas mídias sociais e em sites de notícias. Organizações independentes começaram a checar informações para um selo do Google Notícias no início do ano passado, como Chequeado, na Argentina, Agência Lupa, Aos Fatos e Agência Pública, no Brasil, e ChecaDatosMx e El Sabueso, no México.

Estas organizações também investem em programas de educação em checagem de dados. Na Argentina, o Chequeado já ampliou o debate da verificação de fatos para adolescentes de 15 a 18 anos. Duvidar de declarações, ponderar sua relevância, checa-las com fontes oficiais, confirmar com fontes alternativas e coloca-las em contexto para descobrir se são verdade ou não se tornou um assunto de escola.

No Brasil, duas iniciativas também se lançaram ao propósito da educação: como parte do International Fact-Checking Day, o site Aos Fatos lançou uma série de aulas online em parceria com o Instituto Tecnologia e Sociedade, do Rio de Janeiro, e a Agência Lupa estreou o Lupa Educação.

Para contribuir com o processo educativo na checagem de informações na área da política, o site de checagem Aos Fatos planeja lançar em junho deste ano uma bot conversacional que irá ajudar os eleitores a combater as desinformações durante as campanhas eleitorais. O nome dela é Fátima, e ela vai fornecer dicas para os usuários analisarem informações públicas online. A comunicação acontecerá através do Messenger, serviço de mensagens instantâneas do Facebook, que é parceiro no projeto.

A partir dos ensinamentos de Fátima, os consumidores de notícia aprenderão como separar notícia de opinião, como encontrar dados confiáveis para diversos temas e como saber se uma fonte é confiável ou não. O projeto faz parte de uma iniciativa de news literacy (alfabetização midiática, em inglês) financiada pelo Facebook no Brasil.

Fontes:

https://apublica.org/2018/02/truco-correntes-de-whatsapp-espalham-informacoes-falsas-sobre-febre-amarela/

http://www.wired.co.uk/article/how-fake-news-could-lead-to-epidemics

https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-18250-aposta-no-fact-checking-jornalistas-criam-mais-iniciativas-para-verificar-o-discurso-p

https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-19140-bot-conversacional-vai-ajudar-combater-noticias-falsas-nas-eleicoes-do-brasil

https://br.newsroom.fb.com/news/2018/01/facebook-apoia-projetos-no-brasil-para-combater-desinformacao/

https://aosfatos.org/noticias/aos-fatos-e-facebook-unem-se-para-desenvolver-robo-checadora/

http://www.deviante.com.br/podcasts/scicast/scicast-178-surto-de-febre-amarela/

http://www.deviante.com.br/podcasts/scicast/scicast-237/

http://www.deviante.com.br/podcasts/spin/spin-de-noticias-101/


Josy Machado. Jornalista, leitora e sonhadora.