Em meio aos acalorados e cinematográficos tiroteios da Segunda Guerra Mundial apresentados por franquias como Call of Duty, Battlefield e o finado Medal of Honor, uma série se destacou por apresentar uma abordagem mais “realística” do mesmo período. Desenvolvido pela Rebellion Developments, Sniper Elite é um game de tiro tático que já conta com 4 títulos principais e 3 spin offs, colocando o jogador na pele de um atirador de elite que realiza missões de espionagem e infiltração durante todo o período da guerra. Utilizando um rifle sniper, o jogador deve considerar alguns princípios da física a cada disparo de longa distância para que a bala acerte o alvo. Portanto, se acomode em algum lugar estratégico e prepare seu rifle, pois hoje falaremos sobre Sniper Elite e aprenderemos um pouco sobre balística.

Atravessando três gerações de consoles, o primeiro game foi lançado em 2005 e já apresentava uma física realística para os disparos de rifle, o grande diferencial da série. Em 2012 uma sequência/remake foi lançada, Sniper Elite V2 trouxe as famosas “X-Ray Kill Cam”, recurso em que a câmera segue a bala, em câmera lenta, até o alvo e mostra uma radiografia da parte do corpo atingida e o dano que o disparo causa aos órgãos e/ou ossos. Esse recurso foi mantido nos lançamentos seguintes e virou uma característica da série. O ultimo game foi lançando em 2017 e na dificuldade padrão (normal) para tiros de longa distância, o jogador só precisar compensar a interferência da gravidade na bala, além de alterar a postura (em pé, agachado e deitado) para maior estabilidade na mira, segurar a respiração antes do tiro também ajuda a aumentar a precisão. Já nas dificuldades mais elevadas, todos os auxílios de mira são retirados e assim como na vida real, o vento é outro fator a se considerar durante o disparo.

Gravidade e vento são os principais fatores que agem sobre a trajetória de uma bala ou qualquer objeto que seja atirado ou jogado, pelo menos dentro da atmosfera terrestre, mas não são os únicos. Todos esses fatores são estudados e fazem parte de uma ciência que todos nós vimos em algum momento ensino médio, a balística.

De forma resumida, a balística é a ciência que estuda o movimento de corpos lançados ao ar livre, normalmente associada ao disparo de projéteis por uma arma de fogo. Nesse caso em específico, ela se divide em três partes: a balística interior, a exterior e a terminal. A balística interior estuda desde o momento do disparo até o instante em que a bala sai da arma, a balística exterior vem na sequência, estudando a partir do momento que a bala sai da arma até o instante em que ela atinge o alvo, por último temos a balística terminal, que trata do momento do impacto da bala com o alvo. Para os atiradores de elite e para nós nesse texto, a balística externa é a principal a ser estuda e levada em consideração a cada disparo realizado.

Antigamente pensava-se que a trajetória descrita por um projetil era retilínea (reta), mas depois de experimentos, Galileu e Newton provaram que a trajetória de qualquer corpo sob a ação da gravidade é elíptica ou parabólica. A ação da gravidade sobre uma bala disparada é tão grande que, se no momento deixarmos cair outra bala da altura do cano da arma, as duas chegarão ao solo ao mesmo tempo. Para compensar a ação da gravidade, os atiradores miram “acima” do alvo.

Como já dissemos o vento é outra variável a se considerar. Atiradores se valem de indicadores como fumaça ou folhas balançando para compensar a trajetória do disparo. Porém, com o avanço da tecnologia, novas armas e munições foram sendo criadas, o que resultou em disparos bem mais distantes comparados aos realizados na época da Segunda Guerra Mundial, quando se passa o game. Isso aumentou a eficiência dos atiradores de elite, pois, dependendo da munição utilizada, com tiros de uma distância superior a 600 metros o alvo não escuta o barulho característico dos disparos. Isso acontece porque depois de 600 metros, a resistência do ar faz com que a bala diminua seu deslocamento para velocidades subsônicas. Então, um atirador bem posicionado e longe o bastante poderia passar o dia inteiro atirando em alvos sem que eles ao menos soubessem que estão sendo alvejados.

Porém, quanto maior a distância que uma bala “viaja”, mais serão as variáveis que podem alterar sua trajetória. A temperatura do ar é mais uma delas, como o ar frio é mais denso que o ar quente, uma bala encontra mais resistência no ar frio do que no quente. Porém normalmente o ar quente vem acompanhado de umidade, outra variável a se considerar.

Como vimos, são muitas as variáveis que podem influenciar na trajetória de uma bala e é incrível que mesmo com tudo isso os atiradores ainda acertem seus alvos. Inclusive existe até uma unidade que os atiradores utilizam para medir a precisão, o MOA ou minute of angle (minuto do ângulo). O MOA mede a precisão do disparo em relação à distância entre o atirador e o alvo, a formula básica é 1,047 polegadas (2,65938cm) a cada 100 jardas (91,44m), ou seja, a cada 100 jardas que a bala viaja é adicionada 1,047 polegadas de imprecisão ao disparo. No final a experiência de campo conta muito também, por isso, além de muito estudo, os aspirantes passam por muitas horas de treino em estandes de tiro.

Chegando ao fim, trago uma curiosidade: o recorde para o tiro mortal de maior distância já confirmado foi registrado em maio de 2017 quando um atirador de elite do Canadá a serviço no Iraque acertou e matou um combate do Estado Islâmico a 3,5km de distância. Para um disparo dessa distância, o atirador precisou levar em consideração todas as variáveis que já citamos no texto e mais outra, a curvatura da Terra (ué, mas ela não é plana?). Realmente incrível.

Um infográfico para melhor entendimento do tiro recordista

E por hoje é só pessoal. Espero que tenham gostado do texto e, se ainda não jogaram nenhum game da série Sniper Elite, recomendo darem uma olhada, não é difícil encontrar a série toda por bons preços na Steam. Criticas e sugestões são sempre bem vindas. Até o próximo.

Fontes: Wikipedia, Algo Sobre, How Stuff Works e Defesa Net