Você pode me bater

Ai, ai, ai

e até me provocar

Ai, ai, ai

mas não manche as minhas águas

e se rouba a minha terra

É guerra no mar, é guerra

guerreira, guerra é guerra no mar

se eu não ganho nessa, eu perco

mas na outra eu vou ganhar.

(Guerra no Mar, Maria Bethânia)

 

Salve, salve gente amiga das Ciências!

A necessidade e, muitas vezes, a cobiça levam vizinhos a duelar por espaços e poder. E os versos entoados pela irmã de Caetano Veloso servem para ilustrar um ingrediente que muitas vezes foi usado, ao longo da história da humanidade, como desafio para a defesa/ataque dos países. Foi justamente por espaços e poder que Rússia e Japão iniciaram um duelo, no alvorecer do século XX.

2002_5144_s

Cartaz representando a ameaça russa

Hoje, verificaremos alguns detalhes da batalha que pôs um ponto final na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905):

BATALHA DE TSUSHIMA

(maio de 1905)

A Guerra Russo-Japonesa alcançou clímax épico no final de maio de 1905, com uma batalha naval de dois dias no estreito de Tsushima, entre o Japão e a Coreia. A batalha de Tsushima foi a maior e mais destrutiva no mar desde Trafalgar, ocorrida no outro lado do mundo um século antes. Foi também a primeira e a última grande ação militar das embarcações blindadas da era pré-couraçada do tipo dreadnough

A Guerra Russo-Japonesa alcançou clímax épico no final de maio de 1905, com uma batalha naval de dois dias no estreito de Tsushima, entre o Japão e a Coreia. A batalha de Tsushima foi a maior e mais destrutiva no mar desde Trafalgar, ocorrida no outro lado do mundo um século antes. Foi também a primeira e a última grande ação militar das embarcações blindadas da era pré-couraçada do tipo dreadnough

No início da guerra entre a Rússia e Japão, a maior parte da frota russa estava ancorada no mar Báltico, a mais de 32 mil quilômetros de distância do teatro de operações. Tomou-se a decisão de fazer navegar a maioria dessas embarcações por metade do mundo para enfrentar os japoneses. Elas levantaram âncora em 15 de outubro de 1904 sob o comando do almirante Zinovi Petrovitch Rozhestvenski e seguiram pelo Báltico.

baltic-v2

Trajeto da frota russa, do Báltico ao Pacífico

Depois de sete meses a frota russa entrou no oceano Índico e alcançou a baía de Van Fong, na Indochina Francesa, pronta para o combate. Ela consistia em oito belonaves, oito cruzadores, nove destróieres e três embarcações menores. Era uma esquadra de números consideráveis, mas de qualidade duvidosa, com a maioria das embarcações obsoletas. Além disso, eram inferiores em liderança e manejo de artilharia quando comparadas com a frota japonesa do almirante Togo Heihachiro, de quatro belonaves, vinte e sete cruzadores, vinte e um destróieres e dezesseis torpedeiros.

1.paper

Jornal dos EUA, noticiando o início do conflito

No momento em que Rozhestvenski alcançou a baía indochinesa, Port Arthur (grande base naval russa na península de Liaodong, China) já havia caído diante dos japoneses e a frota russa que ali estava fora capturada. O único destino disponível para o almirante russo era Vladivostok. Com poucas reservas de carvão, Rozhestvenski optou pela rota mais direta e mais arriscada, pelo estreito de Tsushima, onde Togo e seus navios estavam à espreita.

Um nevoeiro na noite de 26-27 de maio poderia ter feito a frota russa passar despercebida, mas um cruzador nipônico avistou o navio-hospital Orel com as luzes acesas. Imediatamente informado graças à nova tecnologia do telégrafo sem fio, Togo preparou a ofensiva.

Almirante Togo Heihachiro "Vocês podem querer me comparar a lorde Nelson, mas..."

Almirante Togo Heihachiro
“Vocês podem querer me comparar a lorde Nelson, mas…”

Os japoneses usaram sua maior velocidade, treinamento e tecnologia de definição de distância dos alvos com resultados mortais. Seus projéteis de alto teor explosivo foram devastadores. Quatro belonaves russas afundaram. Knyaz Suvorov, a nau-capitânia de Rozhestvenski, foi atingida e ele ficou seriamente ferido, tendo que entregar o comando ao inexperiente almirante Nicolai Nebogatov. Mikasa, a capitânia de Togo, foi atingida várias vezes, e um de seus cruzadores foi forçado a se retirar da batalha. Os russos tentaram se virar e fugir, mas a armada de Togo virou contra eles. Os destróieres e torpedeiros nipônicos continuaram o assalto durante a noite, e às 10h30min da manhã de 28 de maio, Nebogatov rendeu-se. Das vinte e oito embarcações russas que entraram no estreito, apenas três chegaram a Vladivostok; dezessete foram afundadas, cinco capturadas e três seguiram para o sul rumo às Filipinas.

Tsushima

Esquema de manobras – Batalha de Tsushima

Vale a pena lembrar: Tsushima foi, com exceção das duas batalhas em 1898, nas quais os estadunidenses destruíram virtualmente a marinha espanhola inteira com a perda de um só marinheiro, a batalha naval mais desigual dos tempos modernos. O czar teve que pedir paz. Theodore Roosevelt, presidente dos EUA, mediou o acordo. As condições, claro, foram favoráveis ao Império do Sol Nascente. A primeira guerra de vulto do século XX alçou o Japão ao patamar das potências modernas. Togo e seus homens tinham quebrado o mito da superioridade caucasiana. Sua vitória foi a primeira, na contemporaneidade, de uma nação não ocidental sobre um país europeu. O Japão antecipou táticas e armamentos que seriam usados na Primeira Guerra Mundial. A partir de 1905, os nipônicos assumiram a política externa coreana e dominaram a economia do país. Em 1910, o Japão anexou formalmente a Coreia, que continuou dominada até o fim da Segunda Guerra Mundial. 

est41003

Nau-capitânia Suvorov, que foi à pique na Batalha de Tsushima

 

Sugestão de leitura:

guerra-no-mar-batalhas-e-campanhas-navais-que-mudaram-a-historia

VIDIGAL, Armando; ALMEIDA, Francisco E. A. de (orgs). Guerra no Mar: batalhas e campanhas navais que mudaram a história. Rio de Janeiro: Record, 2009.

 

50batalhas_big

WEIR, William. 50 batalhas que mudaram o mundo: os conflitos que mais influenciaram o curso da história. São Paulo: M. Books, 2004.

 

Sugestão de vídeos: