Logo que soube do incêndio no Museu Nacional, as lágrimas me vieram. Eu quis não pensar muito nisso, torcer para ser fake news, para que fosse pequeno… Porém, nada disso se concretizou e, muito pelo contrário, perdemos tanto, coisas que nem mensuráveis são.

Mas, quem sou eu para sentir tanto por um museu que eu nunca fui?

Bom, fui educadora ambiental e patrimonial no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG. Como educadora em um ambiente de educação não formal, nesse caso, um museu, tenho algumas reflexões.

Nessas horas, muito se falou do corte de verbas promovido pelo governo federal. Não quero entrar nos méritos de cortes orçamentários para educação e ciência. Gostaria da licença para tangenciar essa pauta.

Minhas reflexões seguem para: quantos de nós foram a um museu esse ano?

Qual é o motivo para que esses espaços de conhecimento fiquem subjugados na nossa memória? Esquecidos e enfadonhos? Esse é um pensamento bem comum. “Quem vive de passado é museu”/ “Quem se importa com museu”.

Além disso, existe um sucateamento desses espaços. Problemas na infraestrutura de ordem elétrica, hidráulica, algumas exposições alagam quando chove (é, pois é.) Ninguém quer mesmo visitar um lugar assim. Feio, mal cuidado, às vezes com mau cheiro.

Outro elemento que dificulta é a falta de interatividade. Volto ao enfadonho. O que vai me acrescentar ver um artefato arqueológico que não tem explicação nenhuma de estar ali e que, aparentemente, não vai me acrescentar em nada. Só pela curiosidade?

O que a gente esquece é que o museu não é feito de passado. Esses espaços têm um grande poder em facilitar a construção de conhecimento. Funcionam como um excelente complemento para o processo de aprendizagem.

O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) define o museu da seguinte maneira:

O Museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens de pronto irradiadas por objetos e referenciais ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano. Espaço fascinante onde se descobre e se aprende, nele se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. Por meio dos Museus, a vida social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora. As cidades encontram o espelho que lhes revele a face apagada no turbilhão do cotidiano. E cada pessoa acolhida por um Museu acaba por saber mais de si mesma.

O uso da educação não formal, por meio de visitas em Museus, é uma modalidade didática que oferece ao aluno uma estimulação multissensorial, a qual pode ter um impacto substancial não só na percepção visual, mas também no processo cognitivo, instigando-o intelectualmente (RENNIE; JOHNSTON, 2004; BARRETT, 2015; DE BACKER et al.,2014)

Gardner (1991) sugere que os estudantes possam aprender em Museus, defende que o espaço oferecido pelos Museus possibilita a aprendizagem pelo fato de oferecerem riqueza e diversidade, aproximando assim a criança dos ambientes naturais, onde, espontaneamente, criam o seu próprio conhecimento.

Com a visita a ambientes de educação não formais, como Museus, a escola possibilita aos estudantes vivenciar experiências que, normalmente, não são oferecidas no âmbito escolar, além de permitir o contato com objetos também nem sempre naturais no meio formal.

Ou seja, os Museus possuem recursos que vão além de livros didáticos e quadro negro, permitindo assim a construção do conhecimento pelo aluno, pelo fato dele ter a possibilidade de experimentar, de fato, aspectos concretos de conceitos científicos, podendo assim resultar em uma melhor compreensão. Em Museus de ciências (como é o MHNJB-UFMG), os alunos têm a oportunidade de ser protagonistas de ações, isto é, saem da condição passiva da sala de aula, para ser ativos em seus descobrimentos.

Corroborando com a ideia da potencialidade dos Museus como espaço de aprendizagem, Ramey-Gassert et al. (cit. por MARANDINO, 2001, p.94) alegam que “resultados das pesquisas sobre este tema têm indicado que espaços como Museus promovem a curiosidade, estimulam, motivam e socializam, sendo estes elementos fundamentais no processo de ensino aprendizagem”.

Bom, como vocês viram, não sou eu quem estou falando sobre a importância dos museus na construção do conhecimento. Existe uma extensa bibliografia que embasa esse pensamento.

Os museus são um ótimo ambiente para que a gente possa entender os processos que compõem o mundo que nós vivemos hoje. Afinal, olhando para o passado, a gente consegue entender o presente, planejar o futuro.

Enquanto educadora, tive educandos de todas idades e classes sociais. Era muito valiosa a oportunidade de discutir assuntos importantes, como teoria da evolução, ou como eram as primeiras organizações sociais, e como isso tem a ver com a nossa vida.

Foi incrível perceber o processo de aprendizado nas pessoas. De um modo tão natural, tão fácil, coisa que só um museu pode fazer. Vivência que eu pude experimentar dos dois lados.

Só consegui escrever esse texto com o auxílio da grande amiga, museana, neurocientista e bióloga Letícia Santos. Um dos grandes presentes que o tempo de MHNJB me deu.