Um quadro do SciCast que faz parte da identidade do programa é a pergunta da semana, onde propomos um rápido debate sobre uma questão relacionada ao tema daquele episódio. Sempre recebemos muitos emails dos ouvintes dando feedback, alguns são verdadeiros tratados apresentando pontos e contrapontos a argumentos que foram ouvidos no episódio.

Neste sentido, e para estreitar ainda mais os laços com os ouvintes, vamos começar a publicar os melhores emails na íntegra, até como contraponto e partida para ainda mais debates e trocas produtivas de idéias. O primeiro a estrear esta sessão é o ouvinte Djeefther Souza Albuquerque, de 21 anos, estudante de Engenharia da Computação na UFPE, que mora em Recife.

Acompanhem abaixo o email dele:

No começo do episódio #59 tem uma longa explicação do porque segunda a teoria do caos nossa sociedade tecnológica atual se não esta perto do fim, vive pelo menos a risco de estar. Pois uma série de fatos geraria catástrofes que nos levaria de volta a uma sociedade tipo apocalipse Zombie, e ainda acrescenta provavelmente sem volta. Não, não levaria. Para quem não viu o episódio basta escutar os primeiros 20 minutos.

A forma mais comentada foi um PEM (Pulso Eletromagnético), que é sim um risco real. Se estima que uma tempestade solar forte o suficiente para gerar um grande PEM tem 12% de chance de acontecer entre 2012 e 2112, ou seja é um risco de fato! E já aconteceu um em 1859, chamado  Evento Carrington. Mais informações sobre evento em  http://pt.wikipedia.org/wiki/Tempestade_solar_de_1859.

A analise lá contida no episódio é correta em um sentido, todo o nosso mundo produtivo é extremamente dependente de estruturas complexas auto alimentadas. Mas a conclusão esta errada na minha visão porque as pessoas sabem mais do que fazem em seus trabalhos hoje em dia; temos livros e livros em bibliotecas; e as pessoas podem ensinar umas as outras.

Ninguém sabe mais “construir uma ponte sem um computador”, mas um PEM forte não nos levaria a antes da invenção da ponte, do computador ou de chegarmos à Lua. Não, todo engenheiro sabe fazer as contas na mão, aprendemos no começo do curso aproximações numéricas, e quem esqueceu tem livros que ensinam novamente! 

A analise dele foi correta no sentido que temos muitos operadores de tecnologias. Quem constrói pontes não o faz sem ter computadores, e sem cimento. Quem faz cimento não o sabe sem mineração. Que minera não o faz sem energia elétrica e sem maquinas.

Mas… ai vem um conceito importante há pessoas que hoje são operadores de tecnologias, sem o entendimento profundo do que esta além do seu trabalho, porque é conveniente ser apenas um operador. Um programador não sabe fazer um computador. Muitas pessoas hoje não trabalham como cientistas tecnológicos, que entenderiam profundamente a construção das tecnologias da sua retirada da natureza até o produto final, por não precisarem ser! Outras não trabalham como cientistas tecnológicos por realmente terem uma formação mais técnica. No geral essa é a forma de funcionamento ótima no mundo atual: Pegue algo pronto (um computador, por exemplo) e melhore (faça um novo programa). Eu mesmo produzo assim e quase todos que conheço na academia trabalham na mesma situação. Somos operadores porque é forma ótima de produzir no mundo atual onde tudo esta funcionando bem. Mas no aperto muitos de nós fomos treinamos em um sistema academicista que foca na base do conhecimento, e que sim reconstruiríamos tudo rapidamente. 

Exemplo, todo engenheiro da computação/eletricista/eletrônico sabe fazer um rádio em poucas horas só com metal. É MUITO FÁCIL FAZER UM RÁDIO SIMPLES se o mundo pegasse fogo, mesmo que todos os capacitores do mundo peguem fogo, da pra ir fazendo gambiarras e tentando remontar as estruturas com placas de metal. Assim como um gerador AC (Corrente alternada) movido a mão é algo tão trivial que é somente uma fio enrolado com um Imã. Um gerador DC(Corrente continua) demora um pouco mais, mas também sai rapidamente. Eu não sei fazer uma televisão, mas acredito que um grupo de engenheiros e físicos em uma biblioteca fariam uma em alguns poucos meses. E todas as nossas tecnologias iriam ser refeitas uma a uma sem Google.

Não, nossa sociedade não ia entrar em pânico total, por um motivo simples, o exercito iria estar às 5h da manhã organizando um toque marcial de ordem antes mesmo que qualquer um pense que estamos no Caos. Porque afinal de constas se tu acordar num dia sem energia, sem PC, sem carro, você ia roubar um supermercado? Não né? Com certeza estaríamos em uma crise econômica FORTÍSSIMA, mas não iria de forma alguma morrer 99% da população!

E sim, meu carro pararia de funcionar, mas carros militares são (geralmente) TOTALMENTE MECÂNICOS. Sem falar dos equipamentos elétricos que são blindados eletromagneticamente e os militares costuma ter, por um motivo simples um PEM pode ser induzido por uma ogiva nuclear na ionosfera quase sem efeitos de radiação na terra, apenas queimando a tecnologia local e gerando enorme estrago. Já foi usada em guerras? Não, mas os militares gostam de ser prevenidos. E não só eles, muitos laboratórios e empresas fazem o mesmo com os seus databases pondo os em subterrâneos muito fundos ou protegendo os com blindagem eletromagnética.

Conservar carne sem geladeira? Quando a fome bater, só precisaríamos de uma pessoa da cidade lembrar como fazer charque [carne seca] ou manter em gordura e sair contando aos vizinhos. E vejam toda cidade tem no mínimo uma pessoa que processa carne! Há livros explicando o processo! 

E a globalização? Os cabos de fibra óticas do mundo não desapareceriam assim, e uma LED na ponta do cabo fazendo código Morse é entendível daqui até a China! Luz não sofre interferência!

E ia ter um computadores nesse mundo novo? Com um bom tempo da sim pra fazer! Só não vai ficar bonito, nem pequeno no começo! A minha atual professora orientadora já projetou com outro grupo de alunos há alguns anos um 8086 da Intel baseado no seu código aberto! E ela o faria novamente mesmo sem uma indústria, porque ai vem o mais bonito de uma universidade, mesmo se ela não souber fazer os semicondutores de base ela conhece outro professor que sabe e este trabalha atualmente a 500 metros dela. E esse de semicondutores trabalha a 200 metros do Engenheiro de Minas.

E se baseando no ultimo evento de tempestade solar nem tudo seria destruído. Provavelmente sobraria toda a fiação mais grossa que não forme bobinas. Como por exemplo aquela fiação que conduz a energia a nossas casas, mesmo queimando os geradores poderíamos só os refazer e já aproveitarmos toda a estrutura já existente.

No resumo: Temos gente de mais, que sabe de coisas demais para retrogredir tanto. E temos LIVROS! Muitos! E todas as pessoas práticas seriam produtivas, do físico que sabe de um principio fundamental para refazer um LED a um mecânico de carros que sabe trocar sua injeção eletrônica por um carburador-gambiarra. E ainda com a vantagem de termos uma estrutura decadente, mas já construída, quando refazemos o primeiro carro (que pode ser um fusca recauchutado) já teríamos estradas. 

Os problemas pós-apocalípticos que sobram com real força são: Guerras, Crise Econômica e Inverno Nuclear, Doenças, Asteroide, Supernova de uma estrela próxima.

Guerras não são problemas reais à sobrevivência da humanidade em si, nos mesmo as geramos e quando a situação ficar insuportável tréguas e armistícios sempre ocorrem. A Economia em si mesmo tende a si ressuscitar depois de uma crise, sobrevivemos 1929.

Inverno Nuclear pode sim matar uma parte gigante da nossa população, e é um dos maiores riscos, mas provavelmente não seriamos extintos, apenas teríamos que nos moldar muito ao que restar do mundo vivendo em cavernas ou locais longínquos, mas ainda teríamos alguma tecnologia para essa fuga. Mas sim essa é a situação provável que mais pessoas morreriam.

Doenças não é minha área de estudo, e logo não sei dizer qual a chance de uma doença matar uma parte esmagadora da população, mas acredito que Darwin esta ai pra isso, e extinção seria muito forte.

Asteroide seria um problema gigantesco (piadinha), e pode sim nos extinguir, mas temos formas que os dinossauros não tinham de sobreviver à escassez de comida.

Supernova é um abraço, Estrela nos mataria de tanto brilho sem nem nos dar tempo de entender o que aconteceu. Essa é melhor rezar pra não acontecer.

Mas para a maioria dos ambientes que nos causam riscos e sofrimentos nos teriamos uns aos outros, pessoas com conhecimentos mais diversos, e Darwin ao nosso lado. Somos seres adaptados e inteligentes que mesmo acomodados num mundo confortável em situações que nos exigissem reconstruiríamos o nosso mundo rapidamente!

SO SAY WE ALL.

SO SAY WE ALL.