Olá, meus parcos, porém queridos, leitores. Antes de qualquer coisa, peço aqui minhas sinceras desculpas pelo longo período de ausência deste safardana que vos escreve. Muita coisa boa importante aconteceu em Brasília nessas últimas semanas desde meu último post aqui no Deviante e nenhuma palavra emiti por aqui (ainda que tenha comentado rapidamente alguns desses fatos no meu twitter).

Desde que escrevi sobre a Tia-mais-uma-vez-no-anonimato-Eron, Cunha já perdeu no Conselho de Ética, tentou desesperadamente na Comissão de Constituição e Justiça… e perdeu. E agora aguarda para ser julgado no plenário da Câmara.

“Aguarda”, na verdade, confortável que só deve sair (pois sua saída, neste momento, é questão de tempo) após a votação final do impeachment no Senado – que, também no mapeamento deste momento, dá ampla vantagem à confirmação da saída de Dilma do cargo. Toda a questão da prioridade do que será votado antes e depois – Cunha ou Dilma – é, neste momento que escrevo, o grande objeto de discussão e impasse no Congresso. Mas este não é o assunto sobre o qual me debruço hoje. Hoje falarei sobre Antonio Anastasia.

Antonio Anastasia, PSDB, atualmente senador por MG, foi vice-governador do estado junto com Aécio Neves de 2006 até 2010. Próximo às eleições de 2010, Anastasia assumiu o governo, pois Aécio foi concorrer ao senado. E, ouvindo os ecos da boa aprovação deste, se candidatou a governador. Até aí, nada de incomum nesta história. Mas o que mais chamou atenção nas eleições deste ano foi que, a despeito da histórica polarização nas eleições presidenciais entre PT e PSDB (em 2010, lembremos, Dilma x Serra), surgiu um curioso apelo para que os PTistas apoiassem a candidatura de Anastasia ao governo do estado. Surgia aí o movimento que ficou conhecido como “Dilmasia”.

Em uma daquelas manobras políticas que dariam orgulho à Maquiavel e Ulisses Guimarães (e que enojaria qualquer um que preze por um mínimo de respeito pela ideologia), costurou-se uma aliança entre os dois partidos somente no estado para impulsionar, ao mesmo tempo, a campanha de Anastasia ao governo e a campanha de Fernando Pimentel (PT) ao senado, junto à de Aécio, além, claro do apoio à Dilma para presidente. Ainda que escatológica, a iniciativa não era inédita: 4 anos antes, houvera o “Lulécio”, quando Lula e Aécio se apoiaram mutuamente e teriam amplo sucesso no seu pleito.

Muita coisa aconteceu nesses seis anos desde o Dilmasia, claro. Anastasia foi eleito em 2014 e depois foi pro Senado; Pimentel não venceu para o Senado naquele ano (perdendo para o próprio Aécio e para o ex-presidente Itamar Franco), mas depois virou Ministro do Desenvolvimento e é atualmente o governador de MG. E Dilma, claro, foi eleita a primeira presidente mulher de nossa história – tendo conseguido 46% dos votos de MG já no primeiro turno.

Mas por que eu retomo o Dilmasia no dia de hoje? Porque ontem Anastasia leu seu voto como relator do impeachment da presidente Dilma Rousseff, afirmando, mais uma vez, que a presidente afastado havia cometido crimes de responsabilidade e votando a favor do julgamento da mesma no plenário do Senado.

parece-que-o-mundo-da-voltas-queridinha

Não é?

A decisão final, claro, não cabe somente a ele. O julgamento no plenário deve acontecer no final deste mês, provavelmente após as Olimpíadas. Mas é extremamente simbólico que tenha sido ele um dos protagonistas desse processo. Simbólico para ensinar que a política, assim como o próprio Brasil não é para amadores.

E quiséramos nós, querido leitor – nós amantes da política muleque, da política de várzea, daquela em que Partido X vota assim, Partido Y vota assado e todos sabemos em que terreno estamos pisando – quiséramos nós que esta fosse uma exceção à regra. Na verdade, a escatologia política é a constante. Não fugindo nada de outro assunto não comentado nessa coluna, por exemplo, poderíamos citar o próprio novo Presidente da Câmara, César Maia Jr. Rodrigo Maia (DEM/RJ).

O clã Maia em todo seu garbo e elegância

O clã Maia em todo seu garbo e elegância

A eleição de Maia foi amplamente creditada aos deputados que quiseram fugir do “poder imperial” de Eduardo Cunha; a concorrência principal era de Rogério Rosso (PSD/DF), conhecido aliado de Cunha, e a vitória de Maia como uma via alternativa entre Cunha e o PT ficou bastante evidente. Mas isto não é novidade. O que poucos se lembram, contudo, é que o pai de Rodrigo, César Maia, ex-prefeito, e ex-deputado federal do RJ, além de nome-forte do DEM, sempre teve simpatia por Cunha. O elogiou diversas vezes, inclusive em discursos públicos, durante seu mandato. Aliás, o próprio Rodrigo Maia teceu elogios à Cunha no último ano, tendo sido um dos que votou no mesmo para sua eleição.

Como disse, tais histórias se repetem aqui e ali o tempo todo. A questão não é ficar abismado, surpreso ou mesmo indignado quando acontecem. Isso é política, um espaço público que há muito deixou de ser imoral (já foi?), mas é simplesmente amoral. Talvez essa seja a grande conclusão com os fatos dos últimos dias. A moralidade política é natimorta. Gostemos ou não deste fato.

E, por favor, me desmintam se eu estiver equivocado. Este humilde colunista os agradece.